2019: Ano decisivo para a governação!

8

“Mais vale a lágrima da derrota, do que a vergonha de não ter lutado, por isso lute por tudo aquilo que sonhaste, mesmo que te custe uma lágrima derramada!” Anónimo

Terminou o ano de 2018, e com ele também se foi a transição governativa, em consequência de alternância ocorrida em 2016.

Sim, em Cabo Verde é assim, os governos não conseguem impor ou executar o seu programa na plenitude, durante os dois primeiros anos, em virtude do país não dispor de recursos próprios para executar as suas políticas.

Os dois primeiros servem para gerir duas coisas:

A primeira, para elaboração de novos projetos, negociá-los, conseguir os respetivos financiamentos e preparar a sua implementação.

A segunda, para darem seguimento aos projetos em execução deixados pelos governos anteriores, finalizá-los, em alguns casos, renegociá-los quando brigam com as suas opções políticas ou então abandoná-los, mas isso raramente acontece, dado ao compromisso assumido, em nome do Estado, seja por que governo for.

Consequentemente, no primeiro mandato, os governos em Cabo Verde têm, em geral, 3 anos úteis para governar de acordo com o seu programa, já que há condicionalismos objetivos, decorrentes da nossa condição de não auto-suficientes, o que limita a nossa capacidade de financiar o nosso desenvolvimento, e daí a necessidade ou imperatividade de um período mais longo de transição.

Essa limitação não é exclusiva de Cabo Verde. Muitos países da nossa escala e condição se sujeitam aos mesmos rituais procedimentais, esperando, regra geral, pela conferência com os doadores para mobilizarem recursos e meios para financiar o seu programa de desenvolvimento.

No nosso caso, é, especialmente, no terceiro ano que os governos começam ou estarão em condições de cumprir, de forma mais efetiva, as promessas eleitorais mais substanciais, tendo em conta que já têm o seu plano de desenvolvimento aprovado, mesa redonda com os parceiros realizada e engajamento financeiros dos parceiros assegurado, fato que permite promover ao arranque de muitas iniciativas com impacto socio-económico e no crescimento economia.

Apesar de todas essas evidências, parece que pouca gente acredita nessa nossa tamanha vulnerabilidade ou melhor finge não acreditar, mas infelizmente é assim, para o mal dos nossos pecados.

Cabo Verde é um país pobre e desprovido de recursos naturais. E para piorar as coisas, a nossa pequenez e insularidade contribuem grandemente para dificultar a promoção de projetos e a rentabilização de investimentos. As nossas potencialidades residem sobretudo num mar circundante abundante, mas, ainda, pouco explorado, nas praias, no sol e nos recursos humanos, cuja aposta, embora já se esteja a fazer alguma coisa, mas, ainda, muito aquém das nossas necessidades e das exigências do desenvolvimento sustentado que se almeja.

O grosso que constitui o nosso orçamento de investimento público é constituído especialmente por empréstimos ou ajudas, e provavelmente assim continuará, por mais alguns e longos anos, até que o setor privado crescer o suficiente e as poupanças internas geradas permitam promover o investimento com base maioritariamente em recursos endógenos ou em associação com investidores externos.

Tratar-se-ia de um salto fundamental para que a economia cabo-verdiana passasse a ser realmente de base privada e tivesse uma forte preocupação com produção de bens e serviços transacionáveis, ao lado do desenvolvimento da indústria turística, única forma de entrarmos, à nossa escala, no comércio e na partilha da riqueza mundial.

Uma opção desta natureza exige algum consenso político e social, para que medidas tomadas por um governo sejam continuadas por outros de forma a que elas surtam efeitos a longo prazo, e todos possam beneficiar dos impactos positivos de tais medidas.

A sensação com que se fica quando se observa o debate no espaço público, sobretudo entre as forças políticas, é a de que estamos perante um país sem problemas, com meios de sustentação próprios e que pode oferecer tudo e mais alguma coisa aos seus cidadãos, sem lhes pedir de volta mais trabalho, maior produtividade e menos desperdício.

Sabemos, e todos sabemos, que não é bem assim.

Somos um país subdesenvolvimento, apesar da graduação a país de rendimento médio, com um nível de desigualdades e de pobreza significativo e com uma taxa de desemprego, sobretudo jovem, não negligenciável.

Pois bem, é com base nessas evidências que somos levados admitir que a transição de governos em Cabo Verde, sobretudo quando resultem de alternâncias no poder, é mais longa que se possa imaginar, e que muitos discursos e exigências seriam dispensáveis se os atores políticos limitassem a falar verdade e ilustrassem essa verdade com provas, traduzidos em números e dados facilmente verificáveis.

Não somos aquilo que alguns acham que somos, nem num sentido, melhor de todos, nem noutro, piores de todos. Somos uma realidade frágil, dependente e com quase tudo contra.

Se calhar essas limitações estruturais são a razão da nossa força, da nossa audácia e da nossa determinação em sermos um país e um povo que procuram abnegadamente se afirmar contra as adversidades.

Já não somos, como bem escreveu o poeta, os flagelados do vento leste.

Conseguimos contrariar a lógica e a direção do famoso vento leste, mas ainda não somos capazes de produzir o nosso próprio vento que nos há-de conduzir ao porto da nossa soberana e relativa auto-suficiência.

Em Cabo Verde, apesar das opções dos diferentes governos em promover uma economia de base privada, continua a ser o Estado o principal motor da economia. Os investimentos públicos em diferentes áreas como infraestruturas (rodoviárias, aeroportuárias, portuárias, hidráulicas e hídricas), na educação e saúde ilustram de forma exaustiva essa realidade, fato que pesa, é certo, muito no incremento da atividade económica e é decisivo na indução de desenvolvimento do setor privado que tem, curiosamente, no Estado o seu principal cliente.

Daí a necessidade de um repensar crítico do papel do Estado num país pequeno, com setor privado pouco desenvolvido e, ainda, com atrasos estruturais gigantescos, quando tomamos como referências países e economias desenvolvidas.

É preciso termos sempre presente a evolução histórica e cultural dos Estados e das Nações, para percebermos o percurso que tiveram que fazer, as contradições que tiveram de superar, as armadilhas que tiveram de fugir, dos sacrifícios que tiveram de suportar, das ameaças que tiveram de enfrentar e dos riscos que tiveram de correr, porque só entendendo isso, poderemos melhor traçar o nosso rumo, escolhermos o caminho que queremos percorrer e chegar à terra e ao país que sonhamos.

O país idealizado só se tornará efetivo, se o realismo imperar nas nossas condutas e se a sabedoria tiver campo e espaço para prosperar.

P.S.: Uma nova ideologia está a emergir. Sob a capa da negação da ideologia, lutam e criticam outras ideologias, por serem, exatamente, uma ideologia.

Trata-se de uma ideologia de negação, totalitária e que se acha superior às outras, e que pretende impor-se aos demais como a única ideologia válida, com o fundamento de que: “O capitalismo nos deixou egoístas, o socialismo burros, o fascismo nos deu o ódio, a anarquia nos deu irresponsabilidade e a democracia a ineficiência”.

É um novo totalitarismo!



8 COMENTÁRIOS

  1. JAR demonstra-se incrédulo em relação a democracia que, ao que julgo saber, ajudou a implantar em Cabo Verde. A última citação é disso uma prova. JAR tem dificuldades em compreender um pequeno erro, típico de pessoas que citam sem pensar. Tanto o socialismo quanto o fascismo e anarquismo são formas de totalitarismo. O capitalismo, ao contrário, não é a forma de organização política, mas sim, uma forma de organização da Economia, baseada na propriedade privada dos meios de produção. Ainda bem que este artigo não se destina a obtenção de nenhum grau académico, porquanto JAR seria reprovado sem apelo nem agravo. Faltou ao JAR domínio das das teorias das ciências políticas.

  2. “”A democracia deu-nos a ineficiência””, até parece Silvino da luz, nos anos de chumbo da outra democracia, a “democracia nacional revolucionária”. Como evolui, negativamente o JAR. Cabo Verde recebeu mais ajudas externas durante a “democracia nacional revolucionária” que durante a democracia. Porém, fez muito menos com mais que durante o curto espaço de convivência democrática. É verdade que a citação não é do JAR porém, este deveria ser capaz de descontruir está malfadada e perigrina tese.

  3. Ainda bem que a citação não e do JAR.
    Ainda bem que JPM desmontou a farsa supra citada, diferenciar o trigo do joio, ( sistema de governo / plano de desenvolvimento económico).
    Em matéria de ciência politica, o politólogo não perdoa, aquele falha leva…

  4. Bom, antes de mais, queria agradecer ao caro JPM, estou curioso para o conhecer pessoalmente, pelo trabalho que teve em ler o meu artigo.
    Os seus comentários fez-me lembrar um professor de português, de nome Mário Santos, deportado para Cabo Verde pelo regime facista português, e que dava aulas no país, na época colonial.
    Tinha uma forma interessante de ensinar ou de fazer o aluno aprender que consistia em pôr o aluno a ler um trecho e depois o perguntava de seguida: o que leu?
    Pois, é o que me oferece perguntar ao JPM: o que leu ou não leu na minha nota/observação?
    Não pode concluir o que concluiu, sem haver uma forte dissonância entre o que lá está escrito e o que conseguiu enxergar/compreender, a não ser que esteja mal intencionado o que não acredito que esteja.
    A minha nota critica, de forma cristalina, a emergência de uma ideologia anti-ideologia.
    Não tem nada, mas absolutamente nada, a ver com a minha devoção ou não devoção com a democracia, qualquer conclusão nesse sentido é forçado e sem conexão com os fatos.
    Quanto a citação, me parece uma questão pacífica: cita-se para sustentar uma tese ou se cita para a contestar.
    No caso presente, a citação ilustra os fundamentos utilizados para questionar a existência de ideologias, tese essa que vai em contra-mão ao que defendo, e que o texto da nota bastamente deixa transparecer.
    Não creio, pois, que os seus comentários tenham a ver o que eu disse no texto, mas talvez foram impelidos por reservas mentais, traídas por impulsos insconscientes.
    Quanto ao resto, onde revela uma arrogância que não rima com a humildade dos sábios, considero-os laterais, e não merecem os meus comentários.
    Saudações!

  5. Caro JAR, li e compreendi muito bem o seu texto, que, não é brilhante, do ponto de vista de uma reflexão política. Parece uma listagem de assuntos, e pouca reflexão. Muito comum entre nós. Porém, o seu antigo professor, português, deverá te-lo dito também, que o corolário de um texto, artigo, dissertação, tese ou relatório diz quase tudo do que pensa o autor. Inconscientemente, ou talvez, você decidiu fechar seu trabalho com uma citação, a um tempo desgraçada e inconscientemente do outro. Reflectindo ou não seu pensamento político, você termina sua reflexão com uma grande asneira. Grande abraço, JAR.

  6. (…) não tem nada a ver com a minha devoção ou não devoção com a democracia (…) JAR. Ora, aí está um acto falho, JAR. Eu acho que você deveria assumir sem complexos, a sua total devoção para com a democracia e sua total repugnância em relação a todo o resto. Ficava-lhe bem melhor JAR. Aquele abraço, JPM.

    • Desisto.
      O pior… é aquele que não quer entender/ver.
      Que confusão!
      Pretende conduzir a discussão para um campo que, com devido respeito, não jogo.
      Tem de procurar uma outra turma.
      Ponto final da minha parte!

  7. JAR, você tem mesmo é que parar! Demonstra terrível falta de preparo e de humildade. Já concordei consigo, mas por favor. Não me peça para concordar com essa coisa daí. Alguém que confunde formas ou modelos de organização política, com modelos de organização económica, não tem preparo. Poderá sempre defender que a citação não é sua. Pior! Comete erros de análise gavissimos, faz citações que diz serem usadas, não se sabe bem para quê (porque ou inexistênte ou por que inconsequente), não identifica a sua fonte, e acha tudo pouco. Você pode espernear, mas isto não apaga os erros formais e de análise. Grande abraço.

Comentários estão fechados.