Abstenção de Cabo Verde na ONU justificada pelo fato do texto ser “demasiado parcial”

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Diplomacia Cabo-verdiana, acaba de justificar, posição do País ao voto de Cabo Verde na Assembleia Geral da Nações Unidas, sobre o conflito Israel-Hamas. Não há uma “única palavra de condenação aos ataques violentos perpetrados pelo Hamas”, referiu o Ministro dos Negócios Estrangeiros

Em conferência de Imprensa, na Cidade da Praia, o Ministro Rui Figueiredo Soares começou por referir que Cabo Verde “é um acérrimo defensor e promotor” da Paz, da liberdade e da “coexistência pacífica” entre os povos, no respeito integral pela Carta das Nações Unidas e pelo Direito Humanitário.

Posto isto, ajuntou, “importa, distinguir a posição de Cabo Verde no processo de discussão e votação de uma Resolução sobre aspetos específicos do atual momento do conflito entre o Estado de Israel e o Hamas e a sua posição de fundo sobre o conflito Israelo-Palestiniano, numa perspetiva histórica e considerando uma solução duradoura para o mesmo”.

No que se refere ao texto da Resolução, com voto abstenção do nosso País, ao lado de 44 outros Estados, o MNE esclareceu que a posição “traduz o facto de (…) não se satisfez com a sua versão votada, por ser demasiado parcial, sem uma única palavra de condenação aos ataques violentos perpetrados pelo Hamas”.

Entretanto, o Canadá propôs uma “importante emenda”, e que mencionava a “clara responsabilidade” daqueles que atacaram Israel, a 7 de outubro, indicando a causa próxima da guerra em curso e do risco de escalada a que se assiste, mas os promotores do projeto de Resolução “votaram contra” a referida proposta, contrariando, igualmente, o apoio de Cabo Verde, e 87 outros Estados, inviabilizando, sua inserção num texto que seria “mais equilibrado”, explicou Rui Figueiredo Soares, observando que para Cabo Verde, “tratava-se, como ainda se trata, de coerência com a posição de condenação inequívoca dos hediondos ataques”, ocorridos no início de outubro.

“Este posicionamento também é coerente com a posição de princípio de sempre de condenação de todo e qualquer ato de terrorismo, mormente daquele que atente contra a vida de civis inocentes”, acentuou.

“Foi este o contexto e esta a razão da decisão de apoiar a emenda apresentada pelo Canadá, que infelizmente não foi aprovada”, vincou, de seguida.

“Convém notar que esse processo de votação foi fraturante para várias regiões e blocos de países, mesmo para aqueles que dispõem de instrumentos definidores de política externa comum, o que devia convidar os atores políticos Cabo-verdianos a dar prova de moderação acrescida, ao invés de ver neste caso uma arma de arremesso. O interesse nacional a isso obriga”, justificou, ainda.

O chefe da diplomacia Cabo-verdiana lembrou que “grandes financiadores da ação humanitária, mesmo neste contexto, expressaram a sua preocupação para com a necessidade de haver um equilíbrio na proposta de Resolução, e são países que, tal como Cabo Verde, defendem o Direito internacional humanitário”.

Para o Governo de Cabo Verde, “é importante que sejam preservados mecanismos de diálogo para a Paz, que a ajuda humanitária neste contexto seja reforçada e sejam observados os princípios do Direito internacional humanitário, no estrito respeito pela Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra”, enfatizou Rui Figueiredo Soares, que lembra que o nosso País “tem agido” para facilitar todas as ações humanitárias a favor do povo Palestiniano, nomeadamente autorizando pedidos de sobrevoo e aterragem de aeronaves com este fim.

“Cabo Verde condena o terrorismo sob todas as formas e reconhece o direito do Estado de Israel de viver em Paz e segurança, bem como o direito que lhe assiste de se defender, observando o Direito Internacional Humanitário”, pontuou, vincando que o Arquipélago “sempre” fez e continua a fazer “clara distinção” entre movimentos extremistas que defendem a destruição de outros Estados e o povo Palestiniano, que deve merecer “todo o apoio” da Comunidade Internacional, sobretudo no contexto da atual crise, pelo que acentuou, “é essencial” que tudo seja feito para que a ajuda humanitária bilateral e multilateral continue a beneficiar os civis Palestinianos e Cabo Verde “vai continuar a facilitar” o transporte de bens e equipamentos, concedendo “prontamente autorizações de sobrevoo e aterragem a aeronaves empenhadas neste esforço”.

O MNE é claro, afirmando que o Governo não confunde o povo Palestiniano com o Hamas, “mas também não podemos aceitar leituras enviesadas do conflito, propostas por uma das partes”.