Escunina: Um herói não reconhecido!

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Faleceu hoje, 23 de Maio de 2024, o nosso amigo e companheiro de todas as lutas, o cidadão ANTÓNIO LOPES, mais conhecido por todos pelo nome ESCUNINA. Por detrás dessa figura do combatente ESCUNINA- carrega-se uma impressionante história de luta e de resistência contra a presença colonial no território Cabo-verdiano. ESCUNINA foi incansável, firme e deu uma boa contribuição na luta pela soberania de Cabo Verde. Ele e um grupo de jovens da Praia enfrentaram de diversas formas e em diversos momentos as tropas e autoridades coloniais, tendo sido por algumas vezes detido, mas nunca deixou a sua resistência. Em pleno sol quente da ditadura colonial, pichou as paredes da Praia com mensagens contra o regime colonial, organizou várias “embuscadas” e enfrentamentos às tropas e polícias coloniais. Distribui clandestinamente panfletos contra o regime, mobilizou outros jovens contra o regime. Foi detido algumas vezes, mas nunca arredou o pé e nunca se demonstrou cansado da luta. Finalmente, viu e comemorou o dia da conquista da soberania do seu país. Todavia, essa festa não demorou por muito tempo. Em pouco tempo, ele viu as agruras do PAIGC, mais tarde PAICV.  Começou a questionar “se foi para isso a luta de libertação? Então, foi apenas a substituição dos tugas pelos camaradas?”! Entrou em choque com as autoridades do regime do partido único de Cabo Verde e sempre foi contra a unidade da Guiné e Cabo Verde. Penso que o ESCUNINA odiava mais o regime de partido único do que o regime colonial. Pois, ele me dizia sempre:

“MAIKA agora são os nossos próprios irmãos a nos oprimir, a torturar os nossos irmãos…que casta de gente é essa?”!

ESCUNINA lutou e deu tudo o que sabia e podia para o fim de partido único e mais torturas, perseguição politica e prisões. Lutou incansavelmente pela liberdade e democracia. Voltou a mobilizar pessoas, distribuiu panfletos, e resistiu outra vez contra os agentes da DEMOCRACIA NACIONAL REVOLUCIONÁRIA, de que ele detestava com muita ironia. Lutou até que chegou o 13 de Janeiro de 1991, cantou e celebrou a liberdade e democracia, que eram desde sempre o motivo principal da sua resistência e luta. Nunca esperou por alguma homenagem. Pertenceu aos CÍRCULOS CABOVERDEANOS PARA DEMOCRACIA (CCPD), criados em 1981 pelos jovens estudantes Cabo-verdianos em Lisboa, Portugal, e por causa de atividades desse grupo desenvolvidas na Praia por ESCUNINA, ele foi detido por várias vezes pela Policia Política. ESCUNINA abraçou desde o início as causas do Movimento para a Democracia (MPD) e lutou também incansavelmente para a sua vitória no dia 13 de Janeiro de 1991. ESCUNINA lutou incansavelmente pela liberdade e democracia. Ele foi um herói à sua medida e circunstâncias.

A ASSEMBLEIA NACIONAL pode e deve, com justiça, reconhecer essa figura de Cabo Verde, que ocupou incansavelmente a sua vida pela liberdade e democracia. Escunina, vá em paz e repouse na paz eterna. Sei que partiste com uma satisfação no teu coração: finalmente a liberdade e democracia no país que amavas muito, muitíssimo. Meus pêsames aos familiares, companheiros e amigos. (ESCUNINA está na foto com a camisola de cor vermelha).



1 COMENTÁRIO

  1. Completamente de acordo com o Maika. Há mais uma parte da história do nosso Scunina que acho que deve ser conhecida.
    Scunina pertenceu a um grupo de jovens que foi fazer a preparação militar em Cuba para vir pertencer a um exército que em princípio devia vir defender a Independência de Cabo Verde, mas também a liberdade dos cabo-verdianos, bem como a democracia.
    Já em Cuba, foi perseguido pois era um dos que foi carimbado com a chapa de Trotsquista. Depois de se formar em comunicação voltou para Cabo Verde, já país Independente e a perseguição continuou, dessa feita pela Segurança montada por agentes cubanos e soviéticos no nosso país, com inteira responsabilidade do PAIGC, principalmente pela facção vinda da Guiné Conacri.
    Homem que lutou contra os abusos dos agentes da PIDE portuguesa, preso e maltratado antes da Independência, nunca poderia aceitar o que estava acontecendo na altura em Cabo Verde. Perseguições de todo o tipo a militantes e pessoas que não estavam de acordo com o rumo traçado: Forças Armadas Revolucionárias do Povo, passou a ser o “Braço Armado do PAIGC, os militantes desse partido, passaram a ser “Os melhores filhos da nossa terra”, a democracia que está ligada á liberdade de expressão e de pensamento, passou a ser “Democracia, Nacional e Revolucionária, onde só quem tinha liberdade de pensamento e de expressão alguns poucos dirigentes do PAIGC.
    Claro que o Escunina nunca iria aceitar o que ele sempre rejeitou e lutou contra.
    Foi expulso das chamadas FARP. O Scunina continuou a sua luta pela liberdade e democracia como o Maik disse. Foi perseguido , inclusivamente, por alguns antigos colegas e preso. A sua casa estava constantemente na mira dos novos Pides, agora cabo-verdianos da segurança do PAIGC. Resistiu e festejou a democracia e a liberdade em 1990.
    Trabalhou na construção civil, tendo passado por situações difíceis financeiramente, principalmente quando adoeceu, mas nunca aceitou os 75.000$00 para ser Combatente da Liberdade da Pátria.
    Ontem no enterro do Scunina, encontrei muitos amigos dele desse tempo e amigos mais novos.
    Todos estávamos lá para homenagear um homem de coragem, íntegro e amigo dos seus amigos, que lutou sempre para a Independência mas com dignidade e com a bandeira da verdadeira LIBERDADE que se constrói por TODOS e pela verdadeira DEMOCRACIA, que nunca, mas mesmo nunca, pode ser Nacional e Revolucionária.

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