Fidel Castro e mais uma ilusão de Solidariedade nas Escolas Internacionalistas na Ilha de Juventude – Cuba

9

Durante os 2 anos que estive na Escola 4, em Cuba, na ilha da Juventude como professor de português e geografia de Cabo Verde, onde estudavam caboverdianos, pude compreender o verdadeiro significado das dezenas de escolas  que nesta ilha cubana, recebiam crianças e jovens de vários países do mundo, para fazerem o secundário e a maioria depois seguia para cursos médios e uma pequena parte fazia curso superior.

Eram milhares de estudantes idos de países recém independentes, ou países que estavam ainda no processo de luta para a independência.

Para mim não obstante crítico de sistemas de partido único, no início pensava que era uma  solidariedade sã do regime cubano, a apoiar esses países.

Com o tempo comecei a mudar de ideia com o que via e principalmente, com a forma como esses jovens eram educados e como o regime agia quando os estudantes não estavam de acordo com a vida que levavam e as condições em que viviam.

O regime cubano espalhava, e ainda tenta convencer, pelas sete partes do mundo que Cuba recebia milhares de jovens e que gratuitamente lhes dava, comida, educação e uma formação digna.

Antes de entrar no cerne dessa questão um simples mas significativo exemplo de solidariedade que o regime prestava: no início dos anos 90, algumas centenas de estudantes moçambicanos organizaram uma protesta contra a situação que viviam nas escolas da ilha da Juventude. Filhos de combatentes nascidos na guerrilha, fizeram um trabalho perfeito e que só foi dominado com a ida de reforços substanciais de militares de Havana e na altura até dizia-se coordenados pelo Próprio Raul Castro.

Os líderes dessas manifestações foram perseguidos pelas forças castristas, presos, torturados e houve até mortos. Todos os estudantes moçambicanos da ilha e não só, foram expulsos de Cuba depois de presos, pelo simples fato de se manifestarem, exigindo melhores condições e o cumprimento do estipulado nos contratos assinados entre os dois países.

O Regime castristas não se importou com a vida desses milhares de jovens que ousaram dizer não, aos abusos que recebiam e da forma como eram tratados e de noite para dia, foram metidos em barcos e expulsos de Cuba. Que forma de solidariedade entre os povos!!!
Todos os estudantes estrangeiros na ilha de Juventude, incluindo os cabo-verdeados, moravam em escolas no campo, completamente isolados da população cubana e eram eles que faziam todo o trabalhoso limpeza, manutenção da escola.

Mas também, esses milhares de crianças e jovens de várias nacionalidades, constituíram  durante largos anos, a principal força de trabalho que mantinha de pé a exploração dos extensos campos de toronja e outros cítricos que Cuba exportava para a Europa a partir da Ilha de Juventude. E sabem como? Os estudante coordenados pelos seus professores tinham 2 chances: ou trabalhavam de manhã nesses campos, limpando ou recolhendo os cítricos para a exportação e estudavam a tarde, ou estudavam de manhã e trabalhavam a tarde. Isso era todos os dias da semana, de segunda a sexta.

Todos os estudantes que estiveram na ilha da Juventude, pagaram os seus estudos trabalhando diariamente e contribuindo para a exportação cubana, portanto para a economia de um regime que se vangloria da sua solidariedade internacional e se esquece de agradecer aos muitos milhares de crianças e jovens que durante muitos anos trabalharam afincadamente para pagar os seus estudos e que contribuíram com milhares de dólares, ou enviados pelos familiares ou pelos governos de origem, verbas essas, essenciais na movimentação da economia informal na ilha, ação no fundo controlada por agentes do próprio estado cubano. Portanto não venham com histórias de que esses estudantes devem ao regime cubano pois é pura mentira. Devem sim ao povo sofredor cubano, que dentro das suas limitações, ainda davam algum apoio a esses estudantes.

A prova disso foi que, com o fim das escolas internacionalistas, a Ilha da Juventude caiu num marasmo socio-económico profundo e hoje não produz nada.

Mesmo assim o regime e mesmo algumas pessoas defensoras da ditadura cubana, pressionam os ex-estudantes da ilha da Juventude com argumentos falsos e diria mesmo que metem dó e causam tristeza: Não se esqueçam que Cuba vos deu tudo, etc, etc.

É mentira. Os que estudaram na ilha da Juventude, sabem muito bem e devem orgulhar-se do esforço que fizeram para hoje serem homens e mulheres dignos desta nossa querida pátria, onde vivem em democracia e liberdade.

Uma grande maioria de técnicos cabo-verdianos até há bem pouco tempo estudavam em outros países, com bolsas de estudo. Perguntem a esses estudantes se eram obrigados a trabalhar, trabalho duro, não propício para crianças e jovens e se alguma vez, os países onde estudaram lhes cobrou” algo?

Faço-vos um apelo: não se esqueçam dos professores, dos amigos, das namoradas e namorados que deixaram em Cuba e que hoje clamam também pela liberdade e democracia e que estão a viver um momento de crise a todos os níveis: saúde, medicamentos, alimentação básica e o pior, uma repressão sem precedentes que tem levado para a prisão e para a morte cubanos e cubanas que só exigiram em manifestações pacíficas, Pátria y Vida ou seja uma Pátria livre, onde impera a democracia e condições para que todos os cubanos tenham uma boa qualidade de vida.

Vocês mais do que ninguém sabem o que o povo cubano quer. Vamos apoiar os nossos amigos, familiares e conhecidos em Cuba, juntando os nossos apelos a milhões de cubanos em vários países do mundo e a todas e todos que querem um mundo de liberdade, de democracia e de melhores condições de vida.

Viva a solidariedade com o Povo Cubano.



9 COMENTÁRIOS

  1. Professor Tony, obrigada pelo texto esclarecedor, esta tudo dito, assino na íntegra de inicio ao fim.
    Não sei o porque que muitos colegas carregam essa ilusão de solidariedade e divida, sabendo que o lema era ESTUDIO Y TRABAJO.
    Uma ex becária de la.Isla.de la.Juventud 1987 – 1992

  2. Retrato da minha vida estudantil, por 6 anos. Desde o 7º até 12º TODOS eramos internos, num periodo estudava e no outro trabalhava nos campos, dia de semana não tinha ninguém nessa faixa etaria a andar pelas ruas e pior, a BRINCAR, a brincadeira nossa era carregar bolsas cheias de toronjas que sem exageros tinham quase o mesmo peso que eu. Os estudantes estrangeiros nunca trabalharam como os cubanos, digo isto pq estudei nos dois regímenes, escola só de estudantes cubanos (liceu) e escola mista com estrangeiros (curso). Quando fui para o curso, reparei que os estrangeiros podiam faltar quando estavam indispostos ou simplesmente as vezes se negavam, mas os cubanos não tínhamos esse privilegio, no liceu a meta á ser cumprida diariamente nos campos de toronja era superior a das escolas estrangeiras. Em fim não creio que os meus estudos foram de “Graça”.

  3. Assertivo
    Passei pela ilha e na verdade o Tober relatou o que passava nesta ilha da juventude
    Excelente visao
    Gostei
    Abrace

  4. o artigo do Tober está eivado de inverdades. Se ele fosse coerente, por que razão logo que chegou à ilha da Juventude, não manifestou a sua discordância com o sistema de ensino e trabalho no campo? Eu vivi seis anos na Ilha da Juventude e tenho um orgulho enorme daquilo que lá aprendi e convivi. Quanto ele se refere ao trabalho duro, isso só cabe na sua mente, nós capinavamos os campos de toranja e recolhiamos as frutas. Trabalho dura era do meu pai que tinha que se levantar às cinco da manhã para ir dar de comer aos animais no campo e depois caminhar dezoito quilómetros a pé para ir às aulas e voltar para casa. Trabalho duro são as nossas jovens que têm que se prostitur em Portugal para custearem os seus estudos. Se o Tober fosse fazer uma visita à cadeia central da Praia verá a quantidade de jovens que lá se encontram e verá quanta falta faz hoje termos soluções como a da ilha da Juventude para formar jovens. Relativamente aos moçambicanos é pura mentira o que ele diz. Os moçambicanos protestaram e fizeram vandalismo por causa da bolsa de estudos que o governo deles deixou de os pagar ou prometeu e não pagou. As autoridades cubanas tiveram que intervir com as forças policiais para pôr cobro à insurreição na escola em que destruíram quase tudo. Foram detidos e expulsos de Cuba. Quanto à formação média que ele refere que era atribuída pelo governo cubano é ooutra inverdade. Ainda que fosse verdade, onde está o problema? Ou será um país também não se constrói com quadros médios? Para o seu conhecimento, sugiro-lhe que ao hospital da Praia e constate o trabalho feito pelo pessoal técnico formado em Cuba. Inclusive alguns já fizeram licenciatura e envereram pela iniciativa privada, com laboratórios de análises clínicas. A imensa maioria de nós que passamos pela Ilha da Juventude, somos hoje gente honrada e trabalhadora. O Tober se calhar queria que nos nossos tempos livres, na Ilha da Juventude, em vez de estarmos ocupados no campo, estivéssemos na bebedeira ou a snifar pó. Todos queremos que Cuba e os cubanos se entendam , que vivam em paz e harmonia e que o país prospere. Agora se ele julga com essas inverdades consegue inflenciar alguém para o que ele e o seu grupo pretendem, está redondamente enganado. Até porque nós não cuspimos na prato em que comemos. Os estudantes de todos os países africanos e da Nicarágua que passaram pela ilha são hoje quadros qualificados nos respectivos países que dão seu valioso contributo no desenvolvimento e melhoria de condições de vida das populações. Somos e seremos eternamente gratos a Cuba, ao seu povo e Fidel Castro Ruz.

    • Que o Nuno Pires foi e é um rapaz complicado e que percebe muito pouco do que se diz e confunde tentando atacar as pessoas já é sabido. Se ele acha que deve favores ao regime ditatorial cubano, ele é livre de fazer isso. Que o que ele é hoje deve-o o Fidel Castro tem toda a liberdade de o dizer e de o assumir, por isso é que a democracia é o melhor sistema, embora também tenha suas limitações.
      Durante 2 anos que estive na ilha da Juventude o Nuno sabe, mas se já esqueceu, os restantes alunos podem relembra lo que lutamos contra muitas coisas que não estavam bem e com o apoio do então governo democrático de Cabo Verde, liderado por Carlos Veiga, como por exemplo:
      a) conseguimos com muito esforço e determinação e com argumentos irrefutáveis acabar com as aulas de Marxismo Leninismo e de preparação militar;
      b) conseguimos a melhoria da dieta alimentar criando porcos e outros animais, pois em pleno período especial a situação era muito ma em termos alimentícios;
      c) Compramos pratos, talheres, copos toalhas de mesa para que as crianças pudessem comer de forma mais próxima as nossas tradições;

      e) celebramos a festa de Natal que era proibido depois de convencer aos cubanos que Natal faz parte da nossa cultura e tradição e que era importante para as nossas criança;
      f) criamos um serviço de planeamento familiar pois como sabes, qualquer criança ou jovem que engravidava voltava para o país;
      Portanto o teu artigo que é uma quantidade de asneira e de “básicas” próprio de ti.
      Eu não condenei ninguém que estudou em Cuba. Pelo contrário e isso quer queira quer não é sabes perfeitamente que tenho uma excelente relação com quase todos os estudante da ilha da juventude.
      No meu texto parabenizo os pelo esforço que fizeram para serem bons profissionais e digo-lhes o que verdade e todos sentem talvez menos tu é mais uns 2 ou 3. Não deixem que vos imponham a mentira que o Regime Cubano vos deu tudo de graça e que devem tudo a esse regime que hoje maltrata o seu povo.
      Assisti em Cuba uma discussão entre o teu primo Paulo Pires e um prof cubano que dizia isso mesmo ao Paulo. E sabes como respondeu o teu primo. Não estão a dar tudo de graça pois nós trabalhamos. Paguemo-nos por esse trabalho e nos pagamos os estudos. Ele pode confirmar pois relembramos isso ontem.
      Mas Nuno Pires nunca pensei que fosses tão baixo e ainda agora com o comentário do teu amigo. A sugerir em vez de trabalho se as crianças e jovens deviam snifar cocaina ou bebidas alcoólicas. Todos nós sabemos o que se passou la na ilha e não vale a pena desviar a atenção com coisas que só a um snifado ocorre.
      Porque estudou e é doutor em Cuba acha-se no direito de defender o regime ditador que está a maltratar o seu próprio povo e que alguém num país democrático não possa ser solidário com o povo cubano nesta hora.
      Eu estou ao lado do povo cubano e estou solidário com a luta desigual que estão travando;
      Sou a favor de Cuba um país bonito com potencialidades naturais, de recursos humanos excelente onde todos todas as condições naturais para que todos possam ser felizes;
      Sou contra um regime de partido único, responsável pela situação dramática que a grande maioria dos cubanos estão a passar;
      Quanto ao resto do teu discurso como não compreendi … tchau!
      Tober Lopes da Silva

  5. Caro Tober, de complicado não tenho nada. Sou uma pessoa directa, frontal , afável, amigo dos meus amigos que prima pela verdade, honestidade e verticalidade. Se tem duvidas a respeito, pode perguntar por onde passei enquanto estudante e profissional, até porque não tenho nada a esconder. Relativamente ao que nos diverge sobre a nossa passagem pela Ilha da Juventude-Cuba, apenas quis repor a verdade e podes crer que também eu desejo ardentemente que o povo cubano ultrapasse esta fase menos boa e possam viver todos no pais, sob o signo da paz, harmonia, prosperidade e que haja respeito e tolerância entre todos. Eu não confundo nada, passei seis maravilhosos anos na ilha e frequentei três escolas durante esse perído, pelo que estou perfeitamente balizado para emitir opinião a repeito. Acredite que se voltasse a nescer e se me proporcionassem de novo essa oportunidade, não hesitaria. Uma coisa são os cidadãos cubanos que têm toda leigitimidade para criticarem o regime em vigor em Cuba e reivindicarem mudanças, outra bem diferente é sermos nós os que beneficiamos do melhor que o regime cubano fez para com os países menos desenvolvidos, que foi ajudar a formar jovens, vir agora agora hostilizar as autoridades cubanas. Nós melhor do que ninguém sabemos que Cuba fez muito por nós e com poucos recursos. Reconhcer isso é uma questão de justiça! Isso em nada nos dignificaria, mas também, pode crer que essa portura não significa que estejamos de acordo com tudo o que geverno cubano faz ou que não tenhamos ideias a respeito. Quanto ao que se refere às medidas que tomaram durante o período que estiveste na Ilha, já tinha saído para Santa Clara, onde fui estudar na Universidade Central de Las Villas. Mais, digo-te que nós fomos do primeiro grupo que foi para a Ilha, em 1984 e nunca tivemos qualquer tipo de problema com os dirigentes nas escolas e nos demos sempre bem com os estudantes das outros nacionalidades.

Comentários estão fechados.