Frei Claudino partilha experiência de missão nos EUA com OPAÍS.cv

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Natural da Brava, Frei Claudino está em Boston, onde desde 2019 assiste a comunidade Cabo-verdiana. Fala numa “experiência única”

O Frei Claudino Vieira, Capuchinho, é um dos missionários Cabo-verdianos que trabalha com a comunidade Cabo-verdiana residente nos Estados Unidos, sobretudo na extensa Cidade de Boston. Chegou àquelas terras em novembro de 2019, depois de um período de missão em São Tomé e Príncipe. Antes, era Pároco das Paróquias da Ribeira Brava em São Nicolau.

Na verdade, os Capuchinhos assistem os Cabo-verdianos nos EUA desde por volta de 1970, uma presença que foi interrompida em 2003 e retomada em 2016.

Segundo nos contou em entrevista que nos concedeu, o regresso dos Capuchinhos aos EUA decorre de uma “insistência” do Cardeal Seám O’Malley que quis dar melhor atendimento aos emigrantes do nosso País, mas também dos incessantes pedidos da comunidade Crioula.

“Regressamos a Boston em 2016 tendo em conta as inúmeras demandas da comunidade e também pela insistência dos próprios emigrantes que sentiram a falta da presença franciscana capuchinha naquela comunidade”, explicou.

Enquanto missionário, assegura, o trabalho dos Capuchinhos consiste em prestar assistência espiritual aos Cabo-verdianos “especialmente os mais idosos que não conhecem a língua”.

Para além do nosso entrevistado, é também missionário nos EUA o Frei Samuel Gomes, também natural da Brava.

“Celebramos a Eucaristia, visitamos os doentes nas suas casas e nos hospitais, administramos os sacramentos, acolhemos, escutamos e aconselhamos as famílias”, acrescenta, considerando que fazem “um trabalho normal” de um Sacerdote ou Pároco.

“Eu e o Frei Samuel somos Vigários Paroquiais de três Paróquias em Roxbury e Dorcheter onde residem milhões de pessoas e milhares de Cabo-verdianos, mas os nossos ‘paroquianos’ são provenientes da Cidade de Boston e arredores”, informa, confessando que tem sido “uma experiência única”, pois embora os EUA seja um País de oportunidades e de muita riqueza “existe muita pobreza a nível espiritual”.

“O nosso esforço tem sido aquele de estar sempre presente lá onde se verifica necessária a nossa intervenção. Como dizia o Papa Francisco ser pastor com cheiro a ovelhas”, acentua.

De STP a Boston

O nosso entrevistado admite que a realidade dos dois territórios é “totalmente diferente”. Desde logo, culturas e línguas diferentes. Em comum, apenas a presença de Cabo-verdianos.

“A realidade da Igreja nos EUA e em São Tomé e Príncipe é totalmente diferente como podemos perceber. Já só o fato de estarmos em países com cultura e línguas diferente diz muita coisa. Mas fala muito alto também a condição financeira de um e do outro País”, observa.

São Tomé e Príncipe, refere, é um País com “grandes problemas financeiros”, fato que “dificultava muito” o desempenho pastoral. “É como quem diz querer fazer, mas não ter condições para fazer”, lamenta.

Entretanto, assegura, a missão sacerdotal “é sempre a mesma, levar voz e vez à nossa gente e partilhar vida e missão. O conteúdo evangélico permanece sempre o mesmo: levar a boa nova de Nosso Senhor Jesus Cristo e semear o bem”, enfatiza.

Se em STP a execução do plano pastoral era dificultada “em grande medida” por falta de condições financeiras, já nos EUA a execução do plano “é difícil” tendo em conta a organização da vida familiar causada, diz ele, pelo “árduo trabalho” que os emigrantes têm que enfrentar a fim de conseguirem garantir o seu sustento e as remessas para enviar para a terra natal.

O fato de ser da Brava, Ilha com forte presença nos EUA, e ter trabalhado também em São Nicolau, também com expressiva presença neste território Norte-americano leva o nosso interlocutor a admitir ser “sempre agradável” este trabalho junto de Crioulos.

“Na verdade há muita gente da Ilha Brava nos EUA, embora em Boston onde nos encontramos a trabalhar resida um grande número de pessoas da Ilha do Fogo. Mas uma vez que nos tornamos Sacerdotes, acabamos por abraçar todas as Ilhas como uma só realidade, de Santo Antão a Brava. Só para dar um exemplo, dado que trabalhei em São Nicolau nos primeiros anos da minha vida sacerdotal, sinto mais ligado afetivamente àquela Ilha do que propriamente à minha Ilha natal. Mas a grande beleza de trabalhar rodeado por Bravenses, nos EUA, leva-me constantemente a fazer memória da minha origem, isso é gratificante”, partilha.

O Frei Claudino veio a Cabo Verde para participar no Capítulo da Congregação, realizado em finais de Julho, em São Vicente, foi ao Fogo e Brava, rever familiares e presidir a algumas festas religiosas e deve regressar aos EUA no final do mês para continuar a sua missão.

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