Liberdade de pensamento não pode ser conforme as conveniências

O Presidente da República, José Maria Neves, e o Presidente do PAICV, Rui Semedo, convergiram na indignação face à decisão da TCV em mudar um painel de comentadores composto por Felisberto Vieira e António Espírito Santo. Rui Semedo, no seu jeito de sempre, acusa a direção da TCV de ter recebido ordens superiores para mudar António Espírito Santo por Filomena Delgado.

É evidente que José Maria Neves e Rui Semedo têm todo o direito de expressar as suas opiniões, mas não deixa de ser precipitado aludir-se a ordens superiores porquanto não há qualquer razão que o sustente. Isto é, não existe qualquer prova material.

Só a direção de Informação da TCV poderá justificar por qual razão convidou António Espírito Santo e, logo a seguir, o “desconvidou” – o que também não deixará de ser precipitado.

De todo o modo, a acusação mais ou menos explícita que agora se faz ao Governo, não parece credibilizar-se pelo histórico das relações com António Espírito Santo, já que foi este mesmo Governo que convidou um dissidente do MpD a assumir o cargo de Provedor de Justiça – aliás, o primeiro a ocupar esse cargo.

José Maria Neves aparece, agora, como grande defensor da liberdade de pensamento quando no discurso do Estado da Nação em 2014, teceu duras críticas a “colunistas, escribas, analistas” chegando a usar o termo terrorismo. A liberdade de pensamento não pode ser conforme as conveniências, principalmente quando o cidadão em questão é o atual presidente da República.

A decisão da TCV é uma prerrogativa desse órgão público que deve zelar pelo cumprimento do princípio do pluralismo, o que não teve em conta quando decidiu optar pelo painel inicial. Felisberto Vieira é membro do Conselho Nacional do PAICV e António Espírito Santo, como já se disse, é um dissidente do MpD e crítico do Governo. Onde está o pluralismo na representação? Porque reagem mal o PR e o PAICV à substituição de Espírito Santo por Filomena Delgado? É porque lhes convém? É-lhes conveniente que a TCV tenha painéis de comentadores unicolor?

A liberdade de imprensa não é o assalto ao pluralismo e à representatividade política.



1 COMENTÁRIO

  1. No sistema MPD não há mais ninguém para vir a praça pública contra-atacar face aos artigos publicados no Santiago Magazine por um renegado e por ressabiado que pretendia altos cargos e como não conseguiu agora é um crítico feroz deste Governo. Tudo isso acontece por que o MPD nestes últimos tempos afunilou a participação dos militantes a um reduzido número. Há uns tempos atrás o MPD, na oposição, tinha uma lista de colaboradores, que gratuitamente, davam pareceres sobre matéria da sua especialidade. Assim, saiam respostas bem fundamentadas e propostas consequentes. Depois tudo isso acabou e o Secretário geral do MPD passou a dar a cara sobre todos os assuntos. A partir daí saiu muita coisa má. Neste momento à Direção do MPD compete tocar a reunir e reconciliar com todos aqueles que um dia foram dirigentes, militantes, simpatizantes e amigos para vencer a coligação formada pelos órgãos de comunicação social estatal e provada para derrubar o Governo com críticas ferozes. Curioso é que na frente desta coligação estão fundadores do MPD, antigos dirigentes, antigos ministros e Directores gerais e nacionais e oficiais da Polícia Nacional que foram substituídos. Que frutos esta coligação pretende colher ?

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