Não atires pedras aos símbolos. Abra o livro!

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Quem me dera fazer parte de um povo, em que a sua história descrevesse só maravilhas. Em que não houvesse lágrimas, nem nódoas e nem um pingo de sofrimento que se lhe apontasse, nem no passado nem no presente nem do futuro.

Simplesmente, sorte ou azar minha, esse povo-maravilha não existe neste planeta. Não faço a mínima ideia se em outros planetas existem histórias “limpas” de criaturas.

A história de um povo não pode ser considerada de feia, de bonita ou de imaculada! Deve ser considerada de sua história!

De coisas boas e más que aconteceram durante a formatação cultural de um povo!

E como se trata de história, e como se trata, neste caso, do nosso passado, e como se trata de várias histórias que se passaram com os nossos antepassados, e como é passado, não podemos armarmo-nos em valentes revisores do passado deste povo! Ou revisionistas da história!

Quem somos nós? Mexer no passado é levantar feridas, que nunca mais nos trarão o sossego de que tanto precisamos, para construirmos o futuro, o qual nos configura inundado de incertezas!

Não será possível carregar às costas os sacos do passado e ter as energias suficientes para enfrentar o futuro incerto!

É claro que condenamos tudo o que de mal fizeram com o passado deste povo! E ainda bem que sabemos que não foi pouca coisa!

O esclavagismo foi o maior terror da história dos povos! Sabemos disso.

Mas não se apaga o terror desta natureza atirando pedras aos símbolos desse terror! Isto é demasiadamente pouco! Isto é nada!

Pelo contrário, se levantarmos os gestos da inteligência e da razão, os símbolos estarão aí, devem permanecer ali, para mostrar e relembrar a todas as gerações vindouras o que fizeram com a história dos seus antepassados! Ler o livro às novas gerações.

Para que também a memória não caia no silêncio dos tempos. Para que este capítulo da história não fique envolto nas teias de aranha da história!

No tamanho da história, os símbolos são quase nada ou são muito pouco!

É o livro que fica por detrás dos símbolos é que nos importa!

Ficaram os símbolos como marcos da nossa história e não como nossos eleitos heróis!

Porque só a resistência do povo pode ser nosso herói!
Pensa, meu irmão! Pensa bem!

Pensas tu, que se atirares uma pedra contra os símbolos negros do passado, estarás a repor a história e a justiça a este povo?

Se quiseres, meu irmão, ‘repor’ a história ou a justiça, cuida-te do presente e do futuro!

Do passado ficarão somente os testemunhos! Os símbolos negros e o livro, para que as nossas crianças saibam donde é que vieram! E conheçam a sua história!

E o registo sério e firme da nossa repulsa!

 



5 COMENTÁRIOS

  1. Caro Maika, vivemos tempos difíceis, com o surgimento do fenómeno de radicais urbanos, de esquerda, sobretudo, mas não só, de populistas em vésperas de eleições um pouco por todo lado. Chamo a tua atenção para o seguinte: esses radicais não são diferentes do Estado Islâmico que dinamita sítios históricos e arqueológicos na Síria, no Iraque, no Iémen, aqui perto no Mali. Não são diferentes dos terroristas que dinamitam locais de culto no Ocidente. Tudo porque acreditam que apagando a História ou são recompensados no Paraíso ou são combatentes contra o racismo. É tudo uma loucura! Não se engana com a fala mansa e o papo aparentemente rebuscado daquele pessoal que nas redes sociais em cabo Verde defendem o apagão na História da Civilização. Não confessam, mas são alimentados pelo mesmo espirito do Estado Islâmico. Cada uma a seu jeito.

  2. Maika tens toda razção, principalmente quando dizes” Quem me dera fazer parte de um povo, em que a sua história descrevesse só maravilhas. Em que não houvesse lágrimas, nem nódoas e nem um pingo de sofrimento que se lhe apontasse, nem no passado nem no presente nem do futuro” . Há muito que insisto em repormos a nossa história, como ela é, desde a chegada dos portugueses. Entretanto o PAIGC/CV achou por bem de por nas escolas uma história que deu inicio após a independência. Com isso, todos nós que nascemos antes da independência ficamos sem história. Na Alemanha ensinam o Holocausto nas escolas, é história. Demonstrando os erros nos evitam cometer os mesmos erros. Aos meus vou ensinar toda a história de Cabo Verde. Todois os políticos seja qual for a cor partidária deveria lutar para a reposição da história deste país.

  3. Maika, prefiro rir para não chorar. Um livro no lugar de bombas, não é propriamente uma coisa que se peça a um radical de esquerda. Vai ver que o sujeito se converta a razão … Once radical, radical for ever.

  4. Estamos perante mentes autoritárias, truculentas eventualmente piores que aqueles que eles mesmos acusam. São levadas pelo efeito carneiro e são alimentadas por supostos estudiosos que nada entendem da História Universal. Factos: É inegável que houve esclavagismo; é também facto que mesmo antes da chegada dos brancos, era comum a compra, venda e cedência de escravos ou cedência de direitos sobre os escravos por parte de reis africanos; é também verdade que em muitas civilizações antigas, tribos vencedoras apoderavam do património dos vencidos e em muitos casos se tornavam escravos dos primeiros. É também verdade que na Grécia antiga também havia escravos e homens livres, se bem que o termo homem livre refere-se muitas vezes àqueles que buscam o conhecimento para se livrar do engano e da ignorância. Defender a permanência de estátuas e monumentos não significa ser apologista do esclavagismo muito menos ser racista. Afinal, se antes não era possível opor-se ao esclavagismo, hoje a nossa civilização democrática nos permite a nós democratas defender-mos contra o autoritarismo das esquerdas justamente para evitar o regresso ao autoritarismo que levou ao racismo e esclavagismo. Só isso. Podem continuar a ser contra o racismo, nós também somos contra, podem continuar a ser contra o esclavagismo, nós também somos, podem continuar a ser contra as estátuas e monumentos, nós somos a favor de sua manutenção. Alguém acha que os direitos dos do contra são mais importantes que os nossos?

  5. Excelente texto que, entre outras virtudes, realça a mestria do autor em manejar a língua portuguesa. Como seria de esperar de um ilustre jurista.

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