O alto preço de viver longe da terra mãe. Relatos na primeira pessoa (reportagem, parte 2)

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No segundo episódio desta reportagem, damos voz às vivências da Brasileira Nicole, e das Cabo-verdianas Carla Luz e Romina Santos

A jovem Nicole, de 28 anos, conta que lembra vivamente de todo o processo antes de vir para Portugal até o dia que desembarcou no aeroporto de Lisboa, denominado de Humberto Delgado. “Eu sempre tive muita vontade de morar fora do Brasil, pois sempre ouvimos dizer que a Europa é um sonho e aqui agente fica rico e temos uma melhor qualidade de vida, então meus olhos sempre brilhavam quando eu ouvia isso. Depois de algum tempo comecei a organizar para vir morar aqui, confesso que não foi fácil porque eu venho de uma família muito simples e humilde, por isso, eu sempre tive que batalhar para poder ter alguma coisa, na altura eu já estava casada e tinha mais responsabilidade”, sublinha a mesma.

Nicole conta também que neste processo não esteve sozinha, no qual não revelaremos a identidade por causa da preservação da nossa fonte, “eu e o meu esposo começamos a nos preparar financeiramente para poder imigrar, nós vendemos tudo o que tínhamos o que não era muito, desde móveis até um carro. Pegamos esse dinheiro compramos as nossas passagens e foi aí onde tudo começou”.

“Chegamos aqui sem conhecer absolutamente ninguém, uma terra desconhecida, não sabíamos onde estávamos, literalmente. O começo foi muito difícil, passamos um pouco de dificuldade a ponto de ter que contar moedas para comprar um macarrão, depois de algum tempo as coisas começaram a dar certo, consegui um emprego e meu marido também”.

Durante a entrevista, a jovem Brasileira disse que o sonho de trabalhar para ter melhores condições de vida, de entre elas ser “rica” como era uns dos objetivos primordiais, passou a ser uma luta para sobrevivência. “O nosso objetivo aqui sempre foi ter uma vida melhor ter sempre dinheiro para que no final do mês não faltasse nada, mas com o tempo começamos a perceber que estávamos a viver com as mesmas condições do que vivíamos no Brasil. Sem contar que estamos longe dos nossos familiares, e realmente as coisas aqui não são fáceis”.

E falar da saudade, dos quais ficaram para trás os familiares, os amigos num mediterrâneo longínquo, a milhas de distância onde apercebe-se ver através dos olhos já a encher de lágrimas e muito emocionada que estar longe é muito triste e devastador.

Não obstante lidar com a distância e a dificuldade, ainda teve e tem que ouvir e conviver com o preconceito, um dos grandes e graves problemas da Sociedade Portuguesa e não só, principalmente por ser Brasileira.

Ainda com olhar triste afirma, “infelizmente eu sofri muito preconceito por ser Brasileira e já fui muito humilhada, várias pessoas já me disseram coisas do tipo: volta para tua terra não gostamos de ter vocês aqui. Isso nos fere, não estamos aqui para roubar nada de ninguém, nós temos sonhos, por isso, que abandamos a nossa terra e nossa família”.

Deste mesmo sentimento partilhem também quatro jovens de origens Africanos, duas de Cabo Verde, “Terra de Morabeza”, e os restantes um é da Guiné-Bissau e o outro de Moçambique.

Jovens de Cabo Verde

Carla Luz e Romina Santos, ambas filhas de Santa Catarina, são duas entre tantos jovens que sentiram a necessidade de abandonar o País após concluir a licenciatura. A Luz, como ela mesma gosta de ser chamada, inscreveu-se no curso de Mestrado em Tecnologias de Informação, Comunicação e Multimédia, no Instituto Universitário da Maia, ISMAI, no Porto, e seguiu a viagem. Na bagagem trouxe muita fé e esperança de um futuro promissor.

Luz emociona-se ao recordar o início dos estudos. Entre soluços e sentimento de gratidão, ela diz ser muito bem acolhida pelos amigos que ao longo da jornada ajudou-a a redefinir a definição da família.

Levando a vida da imigração e longe dos familiares, a jovem Santa-catarinense emociona-se ao ser questionada qual foram as maiores dificuldades encontradas durante o percurso.

Luz diz que, conciliar os estudos com o trabalho full time obrigou-a a tornar-se uma menina-mulher, mais forte e sensata! Sentiu a responsabilidade bater-lhe à porta, e o ‘desgosto’ de contar os tostões e de os gerir! Mas o mais difícil foi lutar contra a solidão que teimava em ocupar o lugar da sua coragem e persistência!

Hoje sente-se orgulhosa por ter conseguido concluir o Mestrado com sucesso. Almeja conquistar novas conquistas.

Romina Santos, por sua vez, teve um percurso um pouco diferente, entre esforço e muito sacrifício, não consegui continuar os seus estudos. “Senti a necessidade daquele momento de trocar livros pelas pias de loiças de vários restaurantes pela qual passei”, recorda com uma certa tristeza. Não desistiu de fazer o seu mestrado, uma vez que, não almeja ser cozinheira, a atual função por toda a vida. Todavia a preocupação é maior porque vê-se pressionada pelo tempo e sua idade, “idade ta sta bai manenti, ka sta kel jovem tantu si també…”, rosto de criança, porém, tenho 29 anos”, sorriu.

Deixar tudo para trás é no mínimo doloroso, deixar as pessoas que amamos em lágrimas, não é algo fácil de se fazer. Começar do zero em um novo País é como se jogar de paraquedas e não saber ao certo onde vai parar. É arriscar e estar pronto para enfrentar as dificuldades que encontraremos pela frente e mesmo assim não querer voltar.

É bem mais que conhecer novos lugares, aprender a se virar sozinha, tornar-se independente. Viver longe de casa é aprender a estar consigo mesma, a ser a sua única real companhia mesmo que esteja cercada de pessoas incríveis – porque, no fim, só você se conhece de verdade, conclui.

Reveja a parte 1 desta reportagem:

O alto preço de viver longe da terra mãe. Vida de imigrante