OS DUROS CAMINHOS DE DESENVOLVIMENTO: Um desafio à improvisação!

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Os países não se desenvolvem porque sim. Também não se desenvolvem por palavras de ordem ou mera proclamação de vontade.

Os países desenvolvem-se porque sabem o que querem, sabem ou identificam a forma de o fazer, e organizam-se para fazer o que tem de ser feito.

Aparentemente simples, mas não é bem assim!

Seis são os requisitos ou questões chaves que um país que queira se desenvolver terá de responder, sob pena de na ausência de respostas a essas questões, os seus propósitos e objectivos ficarem comprometidos.

Sumariamente as seis questões já referidas prendem-se com: (i)Visão (ii)Estratégia (iii)Organização (iv)Liderança (v)Disciplina e (vi)Responsabilidade.

Todos os países que atingiram altos patamares de desenvolvimento tiveram ou passaram por esse processo transformacional, em que tiveram de projetar o futuro, futuro desejável, bem como se organizarem e trabalharem de forma consistente para o alcançar.

Para atingir níveis de desenvolvimento que satisfaçam as necessidades reais de um país, é preciso ter-se uma visão do futuro, cuja aspiração tem de ser partilhada colectivamente ou seja: a comunidade nacional terá de saber o que se pretende e para onde se quer ir, e assim conscientemente se comprometer com os desafios e metas propostos.

Para isso, uma visão partilhada do futuro é condição sine qua non para que haja caminho, vias e horizontes para onde um país queira ou possa ir, se estabeleça o tempo que é necessário para lá chegar e as formas de aí se manter. A visão partilhada do futuro cria crença e faz nascer a ambição, elementos indispensáveis para que haja uma postura de luta e de conquista perante aquilo que idealmente se quer construir.

Assim como, sem uma visão não se consegue ir a lado nenhum, também sem um projecto de mudança dificilmente se poderá concretizar o que se visionou, ou seja: não se consegue operar a transformação das coisas, apesar do discurso de mudança.

O projecto de mudança poderá ser consensualizada a medida que se vai impondo, enquanto fautor de novas dinâmicas e de superação das inércias e hábitos velhos, e, ao mesmo tempo, que será necessário desenvolver-se uma nova ética, fundada em princípios e valores que transcendem a cultura de «capela» e a lógica «clubista».

Estabelecida a visão partilhada, incorporada num projecto de mudança, o passo a seguir será responder a questão como lá chegar. A expressão vulgarmente utilizada para caracterizar a resposta, é, na verdade, a estratégia.

A estratégia encerra um conjunto de métodos que é utilizado para que se alcance determinados resultados. Ter estratégia significa que já se tem uma visão e objetivos definidos, e que importa agora conhecer os caminhos para se chegar a resultados esperados.

A definição da estratégia é um dos momentos importantes do processo, e a sua identificação deverá ser rodeada de muitas cautelas, uma vez que as estratégias erradas podem conduzir a que não se chegue a resultados desejados.

Um dos princípios a se ter em conta na elaboração da estratégia é o da flexibilidade. Ao longo da execução deve-se prever a emergência de imprevistos e a estratégia deve conter elementos de adaptabilidade para absorver as correções que se revelarem necessárias ao longo do percurso.

Assim, na realização das aspirações de um país, a organização assume uma preponderância decisiva, e só avança e cresce aquele que der mostras de possuir esse requisito essencial. Os países precisam dessa ferramenta para empreender as suas transformações e devem saber manejá-la convenientemente para serem bem sucedidos.

A organização é fundamental para que as ideias, os planos e os programas sejam materializados. Nenhuma sociedade conseguiu até hoje altos padrões de desempenho ser ter equacionado essa exigência. A organização e metodologias organizativas é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento e, em especial, na construção do futuro. Ela impõe-se a escala mais diversa, desde as instâncias superiores, passando pelas instâncias intermédias e inferiores: não há acções bem sucedidas, consolidadas e com efeito duradouro se não tiverem por trás um suporte organizativo adequado.

Mas as organizações precisam ter a frente quem as dirijam e as conduzam, e numa palavra: liderança.

A liderança é mais do que poder de mandar. Ela é sobretudo a capacidade que se tem de orientar, dirigir, motivar, influenciar, modelar comportamentos, agitar e mobilizar as pessoas para tarefas e objectivos úteis à organização, à estratégia e à própria visão do futuro.

Muitos dos grandes empreendimentos falham na sua implementação, não porque foram mal concebidos, mas tão só, porque faltou a liderança para mobilizar e concentrar as forças no essencial que se quer transformar.

É uma verdade indiscutível, qualquer sociedade precisa de liderança. Precisa de liderança a diferentes níveis: nacional, local, regional, comunitário, empresarial, serviços, etc. Só com lideranças esclarecidas, motivadas e conscientes, e tendo a suportá-las uma boa organização e regras procedimentais adequadas, se poderá chegar a algum lugar, e particularmente ao sucesso.

Dir-se-á que qualquer projeto de mudança precisa, e não poderá prescindir-se, de uma liderança. Diremos, de lideranças (de uma elite comprometida), e não, apenas, de um líder.
O projecto de mudança precisa de gente, a diferentes níveis, comprometida com os seus propósitos e os seus objectivos, para que as ideias nele contidas passem de um rol de intenções à realidade prática vivida e sentida por diferentes atores e pela sociedade.

Qualquer país que procura alcançar o desenvolvimento precisa ter uma perspectiva de transformação e de lideranças comprometidas com a mudança, capazes de dinamizar e arrastar a sociedade para a necessária adesão a duras e difíceis tarefas de desenvolvimento, o que exige trabalho, esforço, dedicação e compromisso com as causas do progresso.

Ao lado da liderança, tanto ou mais importante, se encontra a disciplina. Sem a disciplina nenhuma organização, mesmo um simples clube de futebol, tem garantia de sucesso. O respeito pelas normas, pelos procedimentos, pelas estratégicas definidas, pelos valores sociais e éticos, é fundamental para que a concretização dos desejos, das ideias e dos projectos caminhe na direcção previamente estabelecida.

A disciplina, sobretudo a consentida de forma esclarecida, é essencial para o sucesso dos empreendimentos, sejam eles de que natureza for. Por isso, regra geral, os países que tiveram sucesso ou com níveis de perfomance elevados são os que utilizaram racionalmente o seu tempo, as suas capacidades e os seus recursos, colocando-os ao serviço dos seus objectivos e das suas ambições.

A disciplina consentida tem, não só efeitos duradouros, como ainda conduz a autoregulação, elemento chave para a emergência do dever ser que não é nem mais menos que a consciência do dever.

Ninguém precisa ser controlado para trabalhar, para cumprir horário, para cumprir metas e resultados contratados ou para prestar contas uma vez que o sujeito tem a consciência que isso decorre da sua obrigação enquanto profissional de uma determinada realidade.

Acresce-se que uma disciplina auto-imposta conduz a cultura de responsabilidade. No quadro da cultura de responsabilidade, nada acontece por caso e nada é deixado ao acaso. As tarefas de cada um são assumidas por cada quem, não há espaço para confusão de papéis, nem margem para o exercício de passar culpas.

Este é o ponto mais elevado de transações comportamentais em países que atingiram patamares de desenvolvimento quase de excelência. Os sujeitos são cada vez menos subordinados, agem e funcionam como atores no quadro das suas atribuições e responsabilidades.

Em conclusão: a construção do futuro, para ser tangível, exige planeamento e meios para lá chegar; exige consciência dos limites, dos obstáculos que são necessários ultrapassar e sacrifícios a suportar por todos e por cada um; exige uma crença forte, uma convicção fundada num misto de razão e emoção; exige uma liderança modelar que transmita confiança e segurança aos seus seguidores.

A questão fundamental na construção do futuro desejado é de ordem motivacional. É preciso saber motivar os homens e as mulheres de um país ou de uma comunidade, lançando-lhes desafios realistas, aceitáveis e apropriados para si, sendo absolutamente certa que a adesão procurada aqui para a construção do futuro desejado não é de ordem administrativa, mas de natureza essencialmente motivacional.

A construção do futuro decorre sobre uma visão da realidade que ainda não existe e em relação a qual não se conhece todos seus contornos. É uma realidade carregada de múltiplas incertezas e que pesam, sobremaneira sobre quem projeta ou visualiza o futuro.
O recurso a construção de cenários se mostra indispensável, especialmente quando estamos a lidar com escolhas que têm expressão a longo prazo.

Nesse quadro, a interação entre a Prospetiva e o Planeamento é evidente. A Prospetiva é, regra geral, estratégica, um pouco pelas consequências e não menos pelas suas intenções; enquanto a Estratégia procura apoio na Prospetiva para a iluminar nas escolhas que comprometem o futuro.

Como nos diz Stiglits, “o desenvolvimento representa uma transformação da sociedade, uma mudança das relações tradicionais, das maneiras tradicionais de pensar”.

E estaremos todos cientes disso?